O Chamado do Abismo
A aldeia de Varnholt evitava a caverna ao norte. Diziam que era um abismo sem fundo, uma ferida aberta na terra que exalava um fedor de podridão ancestral. Ninguém sabia há quanto tempo estava ali, mas todos sabiam que algo vivia lá dentro.
Nathaniel Moore, um geólogo cético, chegou à vila determinado a explorar o mistério. Munido de cordas e lâmpadas, desceu pelas entranhas da rocha, onde o silêncio parecia ter peso. A escuridão era tão densa que suas lanternas pareciam ser engolidas.
A cento e vinte metros, ele encontrou símbolos gravados na pedra — espirais impossíveis, como se esculpidas por mãos que nunca foram humanas. O ar se tornou pesado. Então, ele ouviu. Um som úmido, arrastado, vindo das profundezas.
Um sussurro sem língua, como um lamento vindo de uma garganta que nunca deveria existir. O medo rastejou por sua espinha quando sentiu algo respirar perto de sua nuca. Olhou para trás. A lanterna piscou e, por um instante, viu — olhos, centenas deles.
Tentáculos translúcidos emergiam da parede de pedra, e algo vasto, impossível, começava a se mover. O chão tremeu. Nathaniel gritou e puxou a corda, mas ela estava solta. Alguém, ou algo, havia cortado sua única saída.
A última coisa que seus olhos viram foi o abismo piscando de volta para ele. No dia seguinte, sua corda foi encontrada enrolada na entrada da caverna. Não havia sinal de Nathaniel. Mas à noite, Varnholt escutou seu grito — vindo de baixo.
E ele ainda está lá. Esperando. Chamando. Chamando por nós.
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