As Espirais da Loucura

Em uma cidade esquecida pelo tempo, escondida entre montanhas inalcançáveis, algo antigo e inominável espreitava. Era uma entidade que mexia com as leis do universo como um mestre manipula as cordas de uma marionete. Seu domínio: as espirais infinitas e hipnotizantes.

O céu noturno, onde as estrelas em rotações hiperbólicas dançavam, era sua tela, e os habitantes da pequena cidade, seus confusos espectadores. Havia uma sensação incessante de que algo estava errado, de que a realidade dobrava-se sutilmente a cada noite que passava.

Tudo começou quando estranhas figuras espirais começaram a surgir na neve que cercava a cidade, impossíveis de serem apagadas pelo vento ou pelas tempestades. Eram gravadas como se o próprio mundo as desejasse ali.
No entanto, a verdadeira descida à loucura começou quando os moradores, um a um, começaram a ser assombrados por sonhos delirantes, onde eram sugados para dentro de um redemoinho eterno. E ao despertar, as espirais os seguiam até estarem estampadas em suas próprias peles.

Entre eles, Clara, uma jovem artista da cidade, foi a primeira a perceber a conexão entre as espirais e a crescente loucura. Desesperada, buscou entendimento na biblioteca da cidade, encontrando apenas relatos antigos, incontáveis tomos que falavam de um deus adormecido.

Um deus capaz de manipular espirais; uma entidade que fazia de todo o universo seu jardim de caos e tinha agora sua atenção na desgarrada cidade. Clara, em suas pesquisas frenéticas, uma noite, se deparou com o impossível.
Aventurou-se até a cúpula mais alta da cidade, onde o céu parecia mais próximo, mais denso, e ali, sob um céu opressivo amassado por espirais cósmicas, a verdade foi revelada. As espirais eram o olhar do deus, as janelas pelas quais observava e inspecionava seus brinquedos frágeis.

As pessoas eram peões enredados em sua teia mortal de insanidade. Com o tempo, Clara entendeu que escapar não era uma opção, pois a própria realidade estava deformada, redemoinhos que se fechavam ao redor de sua mente.
Naquele momento, ela percebeu que lutar era fútil, que a luta contra um horror além da compreensão humana era sempre uma batalha perdida. E a cidade, agora inteiramente engolfada pela loucura, tornou-se um santuário perpetuamente abandonado, uma relíquia do silêncio universal.

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