O Chamado do Pântano Sombrio

No coração do Pantanal, havia uma área esquecida pelos mapas e ignorada pelos nativos. Chamavam-na de Pântano Sombrio, um lugar onde a luz do sol parecia se perder na névoa espessa e onde nenhum animal ousava pisar. Miguel, um biólogo obstinado, acreditava que ali poderia encontrar uma espécie de planta desconhecida, algo que o faria famoso no mundo científico. Contra os avisos de todos, ele partiu sozinho para explorar o local.

Conforme adentrava a região, o ar se tornava mais denso, sufocante. A vegetação mudava gradualmente, transformando-se em formas retorcidas e grotescas, como se a própria natureza estivesse se dobrando a algo profano. Em certo ponto, ele notou uma mudança estranha no som ao seu redor — o pântano, antes vivo com o barulho de insetos e pássaros, agora estava em silêncio absoluto.

Após horas de caminhada, Miguel chegou a uma clareira, no centro da qual havia uma estranha estrutura. Parecia uma árvore petrificada, mas suas formas não eram naturais. Seus galhos se contorciam em direções impossíveis, e algo pulsava em seu interior, emitindo uma luz esverdeada e doentia.

Curioso, Miguel se aproximou, sem perceber que, a cada passo, sua mente parecia se afastar da realidade. Ao tocar o tronco da árvore, uma onda de calor percorreu seu corpo, e então ele ouviu — não com seus ouvidos, mas com sua mente — um chamado. Algo, nas profundezas do pântano, acordava. Sentiu-se observado, como se mil olhos invisíveis o cercassem.

De repente, o chão tremeu levemente, e a água do pântano borbulhou. O som retornou, mas era diferente, um lamento grave e distante, como um coro de vozes esquecidas. Miguel tentou correr, mas suas pernas estavam paralisadas. O chamado agora o consumia. Ele compreendeu, com horror, que não havia encontrado uma planta, mas sim uma presença ancestral, adormecida sob a terra por éons.

Antes de perder a consciência, ele percebeu que nunca mais sairia daquele pântano. Ele era apenas mais um a responder ao chamado.

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